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segunda-feira, 23 de abril de 2007

Eu, Orientador Educacional, 27 anos formado, “drogado” e “prostituído” pelo FEBEAPEBRA*




Francisco Carlos de Mattos ¹

Resumo: Assim como qualquer professor das chamadas disciplinas do Núcleo Comum de matérias, como, por exemplo, Língua Portuguesa, Matemática, Geografia, História, Língua Inglesa, Biologia etc pode fazer pós-graduação em Orientação Educacional e atuar como tal, quem é Orientador Educacional pode fazer, também, uma pós em qualquer uma das disciplinas citadas e lecioná-las no 2º segmento do Ensino Fundamental e no Ensino Médio. Não pode? O que pode um, não pode o outro?

O presente artigo tem por pretensão refletir e demonstrar algumas convenientes vantagens não muito acadêmicas conquistadas pelas IES que oferecem determinados cursos de pós-graduação Lato-Sensu, de 1 ano de duração, que habilitam o concluinte ao exercício profissional, mesmo que sua graduação não tenha sido da mesma área que aquela.
Pormenorizando a tese enunciada, pode-se ilustrar este problema com os cursos de formação de Especialistas em Educação (Orientação Educacional, Supervisão e Inspeção Escolar) e Psicopedagogia.
O questionamento sobre tal problemática não surgiu agora. A discussão remonta as mudanças ocorridas no tempo de duração dos cursos superiores, principalmente os de formação de professores, que passaram de quatro, no sistema anual, para três, na forma de semestralidade. Encurtaram a formação acadêmica dos professores e com ela a competência dos mesmos no mercado de trabalho. Hoje, qualquer pessoa que se disponha a fazer uma preleção, é chamada de professor. Assim o é com os técnicos de futebol, que, mesmo tendo a maioria fugido da escola na época em que deveria ter estudado, é caracterizado dessa maneira por seus jogadores.
O professor Rômulo Lins (2003)argumenta que


hoje a licenciatura tem a função impossível de formar um professor capaz de sobreviver mesmo em isolamento profissional (...)Ela passa a ser apenas uma iniciação que visa educar o olhar do futuro professor para ver a diferença e lidar com ela e educar os hábitos dele para o trabalho cooperativo com colegas (...) O objetivo da licenciatura é educar futuros professores. Por isso eu argumento que o grande problema das licenciaturas em Matemática é o modelo 3+1, equivalente a três anos de estudo de Matemática mais um ano de Pedagogia. Por estar centrada nos conteúdos e não na formação profissional, essa proposta contribui pouco para iniciar o licenciando em sua vida profissional. E isso acontece em quase todas as licenciaturas, boas ou ruins..

A ponderação feita pelo profissional acima, vem ao encontro das observações que se pretende alinhavar nesse espaço, começando, como demonstram as evidências até aqui manifestadas, pelas polêmicas situações da formação acadêmica dos professores.
Para contribuir com tal proposição, é ainda o citado profissional quem afirma, que “os professores não são mal preparados. Mal preparado é o modelo de formação docente”.
Mesmo que se insistisse no sistema antigo de formação, a (de)formação continuaria, pois o modelo 3+1, ou seja, três anos de formação específica e somente um de pedagógica não estaria contribuindo em nada no sentido de habilitar o profissional para um bom desempenho na sala de aula. Diminuiu-se um ano de permanência na instituição, mas a proporção estatística continuou a mesma, sendo 75% do tempo para a formação específica e o restante para a pedagógica.
Se a graduação do profissional da educação encontra-se nessa perspectiva, não é necessário muito esforço de memória para se compreender os caminhos pelos quais trilhará uma pós-graduação, principalmente no campo da pedagogia ou psicopedagogia. Carecem àqueles profissionais de respaldos teóricos, que os propiciem uma melhor concepção da educação enquanto fenômeno de mudanças, primeiro de e no próprio indivíduo, no sentido maturaniano de autopoiese, de dentro para fora. Entender, que o conhecimento acontece no interior do indivíduo, quando da internalização do meio externo. O encontro entre sujeito e objeto e a influência de um sobre o outro.
Não se pretende aguçar uma polêmica pelo simples fato da estratégia textual. O tema, acredita-se, há muito vem sendo burilado na cabeça de inúmeros profissionais, mas pouquíssimos são os que se arriscam a socializar as suas inquietudes. Uma dessas angústias fez nascer o pensamento de que, se como qualquer professor das chamadas disciplinas do Núcleo Comum de matérias, como, por exemplo, Língua Portuguesa, Matemática, Geografia, História, Língua Inglesa, Biologia e etc, pode fazer pós-graduação em Orientação Educacional e atuar como tal, quem é Orientador Educacional pode fazer, também, uma pós em qualquer uma dessas disciplinas citadas e lecioná-las no 2º segmento do Ensino Fundamental e no Ensino Médio. O que pode fazer um, pode fazer o outro.
Vale ressaltar, que o norteamento dessas reflexões deve-se pela angústia maior de uma experiência de vinte e sete anos de formação e comprometimento com as causas educativas e, o que merece mais cuidados e melindres, com a formação de futuros profissionais da educação. Portanto, cabe uma ressalva quanto ao título desse artigo, onde espera-se uma compreensão aos empréstimos feitos das obras “Eu, Christiane F., 13 anos, drogada, prostituída” e “Febeapá”. Aguarda-se o entendimento de que ao longo desse tempo, muito se drogou e deveras se prostituiu profissionalmente, face os moldes de formação docente e que não se conseguiu, diante de tantos aviltamentos, fugir do FEBEAPEBRA (Festival de Besteira que Assola a Pedagogia Brasileira).
Não se pode acreditar que todas as IES que propõem essas modalidades de cursos, estejam profundamente preocupadas com a formação acadêmica dos alunos que a elas acorrem, assim como, também, não se pode pensar o mesmo deles. Congrega-se, neste caso, a fome com a vontade de comer. Motivos financeiros movem os dois, configurando o que Darcy Ribeiro caracterizava como a nação dos diplomados em que prevalece a crença de que papéis são mais importantes do que a competência e o conhecimento.
É preciso entender, que a verdadeira formação do profissional da educação, passa bem longe da faculdade e das várias e toscas aulas de seus professores. Vale nesse momento, resgatar o bom senso inserido no senso comum de que não é a faculdade que forma o aluno e sim o contrário. Cabe mais a volição do aluno do que a boa vontade do professor. Aprender, construir conhecimentos, produzir saberes não se compram nos bares e lanchonetes, que se fazem anexos das faculdades. São fenômenos intrínsecos ao indivíduo.

* Título enquanto corruptela das obras “Eu, Christiane F., 13 anos, drogada, prostituída” e “FEBEAPÁ”
¹. Mestre em Educação pela UERJ, professor do Ensino Médio e Orientador Educacional da Rede Pública Municipal de Cabo Frio, professor de Gestão da Unidade Escolar I e II e de TCC da Faculdade de Educação Silva Serpa, no Município de São Pedro da Aldeia e, atualmente, ocupando o cargo de Chefe do Serviço de Orientação Educacional de 5ª a 8ª séries, de Ensino Médio e EJA na Secretaria Municipal de Educação de Cabo Frio.
Referências Bibliográficas
LINS, Rômulo. A formação exige prática. Disponível em:
http://novaescola.abril.com.br. Edição Nº 165 – Setembro de 2003. Acesso e captura em23 abr. 07.
PONTE PRETA, Stanislaw. FEBEAPÁ 2. Rio de Janeiro, GB. Editora Sabiá, 1967.
HERMANN, Kai; RIECK, Horst. Eu, Christiane F., 13 anos, drogada, prostituída. 4. ed. São Paulo: Difusão Editorial, 1982.


3 comentários:

Anônimo disse...

Realmente muitos pensam ou já pensaram na questão; entretanto, acredita-se que não se tenha feito nada até então, pelo simples fato de que pessoas comuns como eu, você ou outro "professorzinho" qualquer, não tenhamos lobbys no Congresso Nacional, assim como eles, os "tubarões do ensino" têm. Eles podem tudo e nós, nada!
Quem sabe se agora, ganhando R$850,00 por 40 horas de trabalho (muita grana, não?), possamos fazer alguma coisa? Durmam com um barulho desses.
Esse governo criou um processo de "deslulização lobotômica" no professorado brasileiro, tirando-lhe as últimas gotículas de "tesão" sindical... e no governo de logo quem?!?!

Anônimo disse...

Para os donos desses tipos de faculdade, só os atacando com um pouco de Arnaldo Jabour. Fui até o artigo escrito por ele e publicado aí por você, até porque as palavras dele se encaixam perfeitamente como carapuças para esses safados.
"Eu adoro a estética da corrupção. Adoro a semiologia dos casos cabeludos sob suspeita, adoro a reação dos implicados, adoro o vocabulário das defesas, das dissimulações, as carinhas franzidas dos acusados na TV, ostentando dignidade, adoro ver ladrões de olhos em brasa, dedos espetados, uivos de falsas virtudes e, mais que tudo, lágrimas de crocodilo."
Saudações pedagógicas, companheiro!

Anônimo disse...

Embora não esteja num momento "verborrágico" vim registrar minha presença e manifestar minha humilde opinião de que já passou da hora de se modificar todo o sistema da Educação no Brasil. E não de baixo para cima como insistem em fazer... Mas de cima para baixo. Passando pela estrutura de "pós-graduações" (em todos os seus níveis) e principalmente pelo processo seletivo de escolha dos professores.

Outro aspecto que deveria ser observado é o dinamismo nas aulas, bem como o absurdo de 200 dias letivos... A escola tem que assumir seu papel como mediadora de conhecimento, e largar o aspecto "creche" e "pater/maternidade substituta" (em alguns casos principal). É a minha opinião.

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