PROTAGONISMO
JUVENIL - O QUE EU TENHO A VER COM ISSO?
Por Professor Francisco
Carlos de Mattos#
♫Todos os dias quando acordo
Não tenho mais
O tempo que passou
Mas tenho muito tempo
Temos todo o tempo do mundo(...)
(…) Somos tão jovens“♫¹.
(Legião
Urbana - Tempo Perdido)
INICIANDO
CONSIDERAÇÕES
Não
se pode prescindir da perspectiva de que o incentivo ao protagonismo² só
pode vir de quem o experimentou um dia ou de quem acredita que ele possa vir a
ser nos nossos jovens. Nesse caso, o termo não pode se restringir a uma simples
palavra,
Ainda que
exista um conjunto de experiências, iniciativas e lutas "por/com/das crianças",
o que contribui para a progressiva inclusão das crianças na agenda
sociopolítica mundial, sua efetiva participação como protagonistas acontece
ainda a passos lentos (Sarmento, Fernandes, & Tomás, 2007) ³.
Nesses
termos, protagonismo como parte de um belo discurso, como essência puramente
teórica, já existe há mais de cinquenta anos, quando da mudança de uma lei
profundamente retrógrada, para outra, disfarçadamente, democrática e
participativa (4024/61 para a 5692/71).
Apesar
e além de a específica lei que assegura os direitos e deveres de crianças e
adolescentes já ter feito 31 anos (13 de julho de 1990) e não mais ser, ela
mesma, uma adolescente, não deixa de ser uma jovem.
Aqueles
adolescentes da época da sanção do ECA, destacando o com a idade limite de 18
anos, hoje já pode ser visto como um senhor com 48 anos.
Muito
provavelmente iremos nortear uma reflexão sobre quem foi e o que deixaram de
fazer por este senhor, quando estava com os seus dezoito anos, para não
incorrermos nos mesmos erros que foram feitos com ele. Nossos jovens merecem um
olhar mais atento e ações profundamente afirmativas, para que os que, nesse momento,
nasceram entre 2010 e 2003, sejam mais privilegiados que aqueles.
DO JUVENIL DE ONTEM AO DE HOJE: O
QUE FIZERAM DE MIM E O QUE FAÇO COM O QUE FIZERAM DE MIM?
(...)No protagonismo juvenil a participação do jovem deve ser uma
iniciativa legítima e não simbólica, onde são criadas oportunidades para que o
estudante possa procurar, ele próprio, a construção de sua identidade⁴.
Não
foi porque não tivemos a oportunidade de sermos contemplados com uma educação
mais participativa, mais cidadã, que não vamos procurar uma prática diferente
para os nossos jovens alunos.
O
título-tema desse Encontro, que, também, o é desse texto, é um belo convite à
reflexão do que pode ser feito por nosso(a)s menino(a)s, para que não sofram o
que padecemos.
Precisamos,
enquanto profissionais da educação, insistir com reflexão/ação permanentes para
tornar realidade esse protagonismo juvenil.
Ajudaria
e muito para a consecução dessa ação, que a prática educativa em nossas salas
de aula fosse efetivada com bases no pensar-fazer-repensar-fazer certo e que
todo conhecimento científico dos componentes que embasam a Matriz Curricular
fizesse um link com a realidade imediata dos nossos jovens. Esse seria, salvo
melhor juízo, o caminho mais perfeito para se alcançar um protagonismo.
PROTAGONISMO JUVENIL - O QUE TENHO A VER COM
ISSO? FINALIZANDO CONSIDERAÇÕES.
“O jovem se torna o elemento central da
prática educativa, participando ativamente de todo o procedimento, desde a
elaboração, a execução até a avaliação das ações propostas. A ideia principal é
fazer com que o jovem tenha uma legítima participação social, contribuindo não
somente à escola, como também com a comunidade em que está inserido” ⁶.
Não
há ensino sem uma real construção de conhecimentos e essa não existe se não for
para tornar a vida dos jovens mais produtiva, mais feliz.
Uma
relação pedagógica que não tenha como foco principal a perspectiva que JACQUES
DELORS, há vinte e dois anos (mais tempo que o mais velho dos jovens previsto
no ECA), definiu para a educação do Século XXI, não levará aluno algum ao
protagonismo. Essa são “os quatro pilares da educação: “aprender a
conhecer”, “aprender a fazer”, “aprender a viver juntos” e o “aprender a ser” ⁵. O seu relatório foi
intitulado como “Educação, um tesouro a descobrir”. Infelizmente, ainda não foi
descoberto como deveria.
Assim
entendemos que temos muito a ver com a construção do protagonismo juvenil,
contribuindo com a reflexão-ação, com a efetivação, já com vinte e dois anos de
atraso, dos quatro pilares da educação.
Ainda
não conseguimos nos desvencilhar da educação pautada num tradicionalismo
pedagógico, onde, até então, o protagonismo continua sendo do professor. O
aluno, raríssimas vezes, exercita essa ação ou é chamado a isso.
Nós,
profissionais da educação, portanto, precisamos, antes de pensarmos em levar o
aluno em se constituir em protagonista, pôr em prática o que nos foi negado. Se
pegarmos como exemplo o docente e/ou o professor Orientador Educacional que
esteja com vinte e oito anos (levando-se em conta que tenha começado seus
estudos, no 1º ano, aos 6 anos de idade), tendo nascido junto com os quatro Pilares
da Educação, de Jacques Delors, ainda há alguma esperança, mesmo que tardia, do
protagonismo do aluno se tornar uma realidade.
O
que eu tenho a ver com isso? Penso que todos nós temos a resposta.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
¹. Disponível em: https://capricho.abril.com.br/comportamento/11-hinos-musicais-que-resumem-perfeitamente-a-adolescencia/. Acesso e captura em 09/10/2021.
². Qualidade da pessoa que se destaca em qualquer
situação, acontecimento, exercendo o papel mais importante dentre os demais.
Disponível em https://www.dicio.com.br/protagonismo/ .
Acesso e captura em 09/10/2021.
³. Disponível em: http://www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1794-47242010000200003. Participação
social e protagonismo: reflexões a partir das Conferências de Direitos da
Criança e do Adolescente no Brasil. [SOUZA, Ana Paula Lazzaretti*; FINKLER, Lirene **;
DELL’AGLIO, Débora Dalbosco***; KOLLER, Silvia Helena.****. Acesso e captura em
10/10/2021.
*
Psicóloga, mestre e doutoranda em Psicologia. Instituto de Psicologia.
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Rua Ramiro Barcelos, 2600.
Porto Alegre, RS, Brasil. E-mail: anapaula.lazzaretti@gmail.com.
**
Psicóloga, mestre e doutoranda em Psicologia UFRGS. Psicóloga da Fundação de
Assistência Social e Cidadania, Porto Alegre. E-mail: lirenefinkler@yahoo.com.br.
***
Doutora em Psicologia e Professora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia
da UFRGS.
****
Doutora em Educação e Professora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da
UFRGS.
⁴. Disponível em: https://educador.brasilescola.uol.com.br/politica-educacional/protagonismo-juvenil.htm. Acesso e captura em 10/10/2021.
⁵. Disponível em: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/pilares-da-educacao. Acesso
e captura em 10/10/2021.
⁶. Disponível em: https://impulsiona.org.br/tudo-sobre-protagonismo-juvenil/. Acesso e captura em 10/10/2021.